Tinha 18 anos quando lá fui pela primeira vez. Tinha o idealismo e as ilusões próprias de uma rapariga dessa idade e lembro-me como se fosse hoje do dia em que a minha mãe me disse: vamos à Índia. Era um sonho que me surgiu cedo e que partiu de imagens mas sobretudo de um livro “O Deus das Pequenas Coisas”. O yoga ainda não tinha entrado na minha vida, ou melhor, a minha vida ainda não tinha entrado no yoga.
Há muito tempo que não me sento em frente a uma tela em branco, há muito tempo que não me entrego ao teclado e deixo escoar livremente o português, mas hoje senti essa vontade e que tema melhor do que a Índia para despertá-la.
A minha primeira viagem à Índia foi uma daquelas atrás dos vidros e das cortinas de bons hotéis. Picamos o ponto em todas as paragens obrigatórias e incontornáveis: do Taj Mahal, ao Palácio dos Ventos em Jaipur, da grande Mesquita de Old Delhi às margens do Ganges em Varanasi, dos templos do Kama Sutra em Khajuraho à entrada do deserto no Rajastão… Lugares magníficos que me comoveram certamente, testemunhos de uma civilização que foi, para dizer o mínimo, brilhante. Costumes e tradições que me surpreenderam e encheram de curiosidade por serem tão distantes dos nossos. Paladares que me conquistaram rapidamente pela criatividade destemida com que se misturam os sabores. Mas acima de tudo as pessoas, aquelas pessoas, aqueles milhares de indianos que se cruzaram comigo naquela viagem deixaram um olhar profundo dentro de mim e quando o avião de regresso descolou eu sabia que ia voltar.
E VOLTEI! Voltei mais 4 vezes com o yoga e com outros olhos, mas sempre com o mesmo amor. Eu amo a Índia. Tal como da primeira vez que lá fui, quando em meio da miséria de Varanasi, a pisar o lixo na rua com o cheiro de corpos a serem cremados a alguns metros de distância e o barulho ensurdecedor do trânsito, dos vendedores e dos pujaris e seus cantos eu me questionei como podia ser aquele o meu sonho e nem precisei de responder, eu hoje sei que aquilo é parte de mim.
Já visitei o norte e o sul, já me perdi nas vielas de Old Delhi e já meditei no Golden Temple, já fiz várias massagens ayurvédicas no Kerala e já passei horas a entrar nos majestosos templos do Sul, já fiz muitos quilómetros, alguns amigos, família até, e foi naquela terra que encontrei um Mestre e que me casei, nas margens do rio Ganges com vista para os Himalaias, na cidade de Rishikesh.
Vieram os filhos e as viagens tornaram-se mais difíceis, mas em nenhum momento a ligação se perdeu, infelizmente o L e a C não vão conhecer o Swami Dayanda como gostaríamos mas saberão sempre quem ele é e que a mais de 8 mil kms de distância, num continente chamado Ásia existe um país onde Ganesha é rei e senhor, onde se tiram os sapatos à entrada de casa, onde ser vegetariano é a norma e onde a apreciação do TODO é a mais incontornável verdade.