Estou cansada desta feira de vaidades em que o yoga se transformou, estarei obviamente a generalizar, felizmente ainda há quem tenha as ideias no lugar mas de facto a banalização e deturpação estão a ganhar terreno e isso mexe comigo!
Este é um daqueles textos que pode gerar polémica, ou então, somos tão tradicionais na forma como abordamos o yoga cá em casa que já nem sequer ninguém nos lê, seja como for, estou pronta para as críticas. Já sei que tudo vai começar por “ah e tal não se deve julgar os demais, isso não é Yoga…”, certo. Aprender a evitar o julgamento fácil, olhar mais para dentro do que para fora, é uma das qualidades que se vai desenvolvendo com uma vida de yoga, mas isso não faz de nós seres passivos e resignados que perdem o juízo crítico. Eu não perdi o meu e não tenciono fazê-lo, porque ter uma opinião e ter clara uma forma de estar na vida também é fundamental para orientarmos as nossas prioridades, no sentido de cultivarmos uma vida de yoga. E isto já pressupõe que percebemos que o yoga não acaba no tapete de prática mas é efectivamente uma forma de viver.
Casos extremos como o do yoga a beber cerveja, yoga com cabras, yoga com armas nem chego a considerar, são demasiado estapafúrdios para terem vida longa e não exigem demasiado discernimento para que se perceba a sua falta de tudo. Agora ginástica olímpica disfarçada de yoga, desafios de ostentação do ego disfarçados de yoga, desfiles de roupa desportiva disfarçados de yoga, psicologia barata disfarçada de yoga, tiram-me do sério, pronto disse!
O Yoga é um meio para o auto-conhecimento, desse caminho fazem parte o auto-estudo, a meditação, o cumprimento de um conjunto de valores e normas éticas e também a prática de ásana, tudo o mais é folclore! Isto de nos tornarmos pessoas melhores não vai lá com falinhas mansas, com cházinho de ervas, nem com 30 mil likes no instagram, mas exige esforço, dedicação e acima de tudo compromisso. Isto também não faz do yogi um chato que não pensa em mais nada, mas alguém muito consciente da sua prioridade e portanto que tem a capacidade, ou pelo menos, esforça-se seriamente por isso, para alinhar pensamento, palavra e acção e viver de forma dhármica. Isto não quer dizer viver alienado do seu tempo, se hoje as redes sociais, por exemplo, estão ao nosso serviço há que aproveitar as suas inegáveis vantagens enquanto meios de divulgação e comunicação, mas o conteúdo que nelas colocamos esse é da nossa maior responsabilidade filtrar!
Ora viver de forma dhármica pressupõe ainda que eu não passo por cima dos outros. Quando começámos a ensinar ainda havia esse respeito e uma certa inocência genuína no meio do yoga. Os professores de yoga conheciam-se, respeitavam-se, incentivavam-se e ajudavam-se uns aos outros, a maioria trabalhava por gosto e não por obrigação, sendo que tantos acumulavam o yoga com outra profissão. Entretanto o yoga cresceu, e ainda bem que assim foi, e hoje em dia em Portugal chega a muita muita gente o que também é muito bom, mas a que preço? A concorrência aguça o mercado e é lícito que cada um queira viver bem e ser justamente remunerado pelo seu trabalho (sim professor de yoga não vive de prana, paga as contas como os outros) mas atropelos, desrespeito, e deturpação de uma cultura milenar em nome da massificação, não vale!
Dito isto cabe a cada praticante fazer uso do seu discernimento na hora de escolher as mãos a quem se entrega e cabe a cada professor honrar a tradição de ensino a que pertence e quanto ao resto “namah”, é entregar à ordem de Ísvara (mas às vezes custa!)!