por casa-ganapati | Mar 14, 2024 | Destaque, Eventos, Sem categoria
Neste retiro mais prolongado e no recato de uma casa na natureza e junto ao mar, encontraremos o tempo e o espaço necessários para uma experiência de contemplação. Através da prática de yoga, de momentos de estudo, de sat sanga e de repouso na natureza, estaremos disponíveis para o que surge.
O mote para as nossas reflexões será o Daśaślokī, um texto atribuído a Śrī Śaṅkara. É dito que quando Śaṅkara se aproximou do seu Mestre, Śrī Govindapāda, para ser aceite como discípulo, ele lhe terá perguntado “quem és tu?”.
A resposta foi oferecida em dez versos, conhecidos como Daśaślokī. Neles Śrī Śaṅkara expõe, de forma clara, a essência de Advaita Vedānta, a natureza não dual de tudo o que vemos, pensamos e somos. O conhecido mestre revela que eu sou essa realidade não dual e que o sofrimento só é removido nessa clareza de conhecimento.
Assim, cada verso conclui “tadeko’vaśiṣṭaḥ śivaḥ kevalo’ham”, essa natureza não divisível, que permanece quando tudo o mais é negado, auspiciosa, sem atributos, apenas, sou eu.
Um retiro para descansar o olhar… em si mesmo.
PROGRAMA (sujeito a pequenos ajustes)
13 de Julho, Sábado
15:00 – Chegada
16:00 – Boas-vindas aos participantes e apresentação do encontro
16:30 – Prática inicial, prāṇāyāma e meditação.
18:00 – Introdução ao Daśaślokī
19:00 – Jantar
20:30 – Satsaṅga e kīrtan
21:30 – Descanso
14 – 16 Julho, Domingo a Terça
08:00 – Silêncio, contemplação e versos selecionados do Daśaślokī
09:20/30 – prática de yoga*
11:00 – Brunch
12:30 – Reflexões: Versos selecionados do Daśaślokī
13:30 – Tempo livre, convívio, praia
18:30 – prática restaurativa ou prāṇāyāma e meditação ou canto**
19:30h – Jantar
20:30 – Satsaṅga e kīrtan
21:30 – Descanso
17 de Julho, Quarta-feira
08:00 – Silêncio, prática para despertar
10:00 – Brunch
11:30 – Contemplar: Versos selecionados do Daśaślokī
12.30h – Namaste!
* De segunda a sexta-feira, a Ganga Mira costuma dar os seus satsaṅgas, 2x por semana, às 9.30h a cerca de 15min de carro do retiro. As nossas actividades durante a semana serão ajustadas e marcadas em função dos dias destes satsaṅgas (que só saberemos na altura) para que aqueles que queiram, possam participar.
** segunda-feira não haverá prática formal ao fim do dia. Aproveitaremos o fim da tarde na praia para termos um momento especial.
Conteúdos:
- Práticas de haṭha yoga com āsana, prāṇāyāma, yoganidrā e meditação.
- Aprendizagem de versos selecicionados do Daśaślokī,
- Mantra, satsaṅga e vidyā (conhecimento).
- Passeios e silêncio na natureza
Praticantes de quaisquer tradições são bem-vindos!
Sobre a participação nos satsaṅgas da Ganga Mira
Aqueles que têm interesse em advaita vedānta como nós, possivelmente irão apreciar os satsaṅgas com a Ganga. Estes satsaṅgas não são palestras, não são um curso, mas servem aqueles que têm genuínas perguntas sobre o assunto e querem uma indicação assertiva. Nas palavras da Ganga:
“Who you really are is here, just now regardless of the states of your mind. You are ever your Self.”
Since 1968, Ganga Mira has been following her master, Sri Poonja (Papaji), a direct disciple of Sri Ramana Maharshi. She started to give satsang in 1998, shortly after her Master passed away….
Os satsangas acontecem em inglês e não têm tradução para português.
Este evento será conduzido pela Ana e Miguel.
Ana Sereno estuda e pratica Yoga desde 2003. Em 2009 completou o 1o curso de Formação para Instrutores de Yoga com Pedro Kupfer, em Portugal, tendo começado a ensinar na Casa Gaṇapati desde então. Entre 2008 e 2016 estuda Vedānta, disciplina de auto-conhecimento, com Pujya Swami Dayananda, seu Mestre, no Dayananda Ashram, em Rishikesh (Índia), onde passa a ver o Yoga não como uma disciplina física destinada ao bem-estar mas como um estilo de vida que conduz à liberdade e verdade do que somos. Hoje em dia, continua os estudos de Vedānta com a professora Gloria Arieira. Em 2010 fez formação em Ashtanga Vinyasa Yoga (1asérie) com David Swenson em Londres. E no ano seguinte, com Manju Jois, na Grécia. É a prática de Ashtanga Vinyasa Yoga que orienta a sua prática pessoal, tendo como referências neste método os professores Tomas Zorzo e Kia Naddermier, com quem continua a aprender regularmente. Dando continuidade à investigação e estudo do Yoga, em 2017 fez um curso de aprofundamento no método Iyengar, com Claudia Villadelprat. No yoga, Ana encontrou a Ordem para uma vida em constante desordem e um código de ética, que norteia a sua vida e que procura passar em diante.
Miguel Homem fez o curso completo de formação para instrutores de yoga com Pedro Kupfer no Brasil 2004/5 e em Portugal 2008/9. Aprofunda-se no estudo e prática de āsana segundo o método Iyengar de 2004 a 2011 com Cláudia Villadelprat e outros professores. Fez formação em aṣṭaṅga vinyāsa yoga com David Swenson e com Manju Jois e pratica regularmente com o seu professor Tomas Zorzo. Em 2005 conheceu o seu Mestre Pujya Swami Dayananda com quem aprendeu vedānta regularmente até ao seu Maha Samādhi, assim viajando para estudar na índia de 2005 a 2015. Desde 2006 traz regularmente a Portugal a Prof. Gloria Arieira com quem mantem o estudo de vedānta, sânscrito e shaṅkara bhāṣyam. Em 2007 conheceu Ganga Mira, assistindo regularmente aos seus satsaṅgas desde então. Em 2012 completou o curso de yoga e ayurveda de 300h com David Frawley, reconhecido pelo American institute of Vedic Studies. Miguel dedica-se ao estudo, prática e vida de yoga há cerca de 20 anos, continua a estudar regularmente, continua a ouvir o que o Swamiji ensinou, continua a aprender e manter uma relação estreita com as suas Mestras por quem tem um carinho, respeito e admiração sem fim. Miguel continua a estudar com os seus professores e ainda a viajar para a Índia, anualmente, para visitar lugares sagrados, aprender, praticar, ensinar e tudo o mais que a Índia traz. Ensina yoga, sânscrito, mantras da tradição védica e vedānta regularmente na Casa Gaṇapati, dando aulas semanais e conduzindo cursos, retiros e extensivos.
LOCAL
Palmas Lodge, Aljezur, Costa Vicentina
Palmas Lodge é uma casa de campo situada em Aljezur, na encantadora Costa Vicentina onde o sol se faz presente por pelo menos 300 dias do ano. Um lugar tranquilo, aconchegante, e com ótima localização, próximo à praia de Vale Figueiras e a poucos minutos da vila de Aljezur e de diversas outras praias.
Mais sobre o lodge:
https://www.palmaslodge.com/
Sobre o Alojamento e alimentação:
- O alojamento será feito em quarto triplo ou quádruplo com wc privativo. *possibilidade de quarto duplo para casais sob consulta
- Alimentação vegetariana – Brunch e Jantar
- Lotação: 18 participantes
Organização: Casa Gaṇapati
ana@casaganapati.com | 919022478
por casa-ganapati | Jan 30, 2024 | Destaque, Eventos
Na Bṛhadāraṇyaka Upanishad, temos um diálogo entre o Rei Ajātraśatru e um brāhmaṇa chamado Gārgya. O brāhmaṇa quer ensinar o Rei, mas o Rei sabe tudo o que brāhmaṇa conhece. Sistematicamente, o Rei diz-lhe que quer mais e embora Gārgya saiba tudo sobre o mundo, tem de concluir que é tudo o que sabe.
Podemos saber tudo sobre o mundo, sermos os mais eruditos, saber mais do que os demais, saber o que os outros desconhecem, mas a verdade não está nos objectos. Qual é a verdade daquele que conhece? Onde descansa ele?
É o que vamos aprender com Gārgya do Rei. Ele revelar-nos-à o nome secreto da verdade!
É nesta mesma secção da Upaniṣad, mūrtāmūrta brāhmaṇam, que encontramos o famoso mantra neti neti, o mais famoso método de Vedānta. Vamos olhar para ele e aprender a olhar para nós através dele!
Vedānta não é simplesmente estudar ou ouvir, mas levar a cabo um questionamento sobre as palavras que me revelam como sempre me quero. Olhamos para essas palavras com a ajuda do sábio, Ajātraśatru, aquele que só quis ouvir sobre a verdade, livre de noções, densas ou subtis.
Todos os que querem genuinamente aprender são bem-vindos!
Programa previsto: (sujeito a pequenos ajustes)
7 de Junho, sexta-feira
15:00 – Chegada
16:00 – Boas-vindas aos participantes e apresentação do encontro
16:30 – Prática de Yoga (Ana)
18.00 – Introdução ao Ajātraśatru brāhmaṇam da Bṛhadāraṇyaka Upanishad (Miguel)
19:30 – Jantar
21:00 – Satsaṅga e kirtan
8 de Junho, sábado,
07:30 – Pratica de Yoga (Ana)
09:00 – Meditação
09:30 – Pequeno-almoço
11:00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
12.15 – intervalo
13.00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
14:00 – Almoço e descanso
18.00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
19:00 – Meditação (Miguel)
19:30 – Jantar
21:00 – Satsaṅga e kirtan
9 de Junho, Domingo
07:30 – Pratica de Yoga (Ana)
09:00 – Meditação
09:30 – Pequeno-almoço
11:00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
12.15 – intervalo
13.00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
14:00 – Almoço e descanso
18.00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
19:00 – Meditação (Miguel)
19:30 – Jantar
21:00 – Satsaṅga e kirtan
10 de Junho, Segunda (feriado)
07:30 – Pratica de Yoga (Ana)
09:00 – Meditação
09:30 – Pequeno-almoço
11:00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
12.15 – intervalo
12.45 – Conclusão e Sat Saṅga de encerramento (Ana e Miguel)
14.00 – Almoço
15.30 – Namaste e Saída
Os professores
Miguel Homem ensina yoga, sânscrito, mantras da tradição védica e vedānta. Miguel dedica-se ao estudo, prática e vida de yoga há mais de 20 anos, aprendeu e aprende yoga com vários professores dos quais destaca Andrés Wormull, Claudia Villadelprat, David Frawley, Manju Jois, Pedro Kupfer, Simão Monteiro e Tomas Zorzo. Em 2005 conheceu o seu Mestre Pujya Swami Dayananda com quem aprendeu vedānta regularmente até ao seu Maha Samādhi. Desde 2006 trouxe regularmente a Portugal a Prof. Gloria Arieira com quem mantem o estudo de sânscrito e Śaṅkara bhāṣyam e por quem nutre o afecto de um filho. Em 2007 conheceu Ganga Mira, assistindo regularmente aos seus satsaṅgas desde então. A expressão directa da Ganga é uma fonte de inspiração e contemplação contínua. Continua a estudar regularmente, continua a ouvir o que o Swamiji ensinou, continua a aprender e manter uma relação estreita com as suas Mestras por quem tem um carinho, respeito e admiração sem fim. Continua ainda a viajar para a Índia, anualmente, para visitar lugares sagrados, aprender, praticar, ensinar e tudo o mais que a Índia traz. Miguel tem um enorme respeito pela tradição de ensino e o seu compromisso é passar adiante aquilo que lhe foi passado pelo seu Mestre. Ensina vedānta regularmente na Casa Gaṇapati, dando aulas semanais e conduzindo cursos e extensivos.
Ana Sereno estuda e pratica Yoga desde 2003. Em 2009 completou o 1º curso de Formação para Instrutores de Yoga com Pedro Kupfer, em Portugal, tendo começado a ensinar na Casa Gaṇapati desde então. Entre 2008 e 2016 estuda Vedānta, disciplina de auto-conhecimento, com Pujya Swami Dayananda, seu Mestre, no Dayananda Ashram, em Rishikesh (Índia), onde passa a ver o Yoga não como uma disciplina física destinada ao bem-estar mas como um estilo de vida que conduz à liberdade e verdade do que somos. Hoje em dia, continua os estudos de Vedānta com a professora Gloria Arieira. Em 2010 fez formação em Ashtanga Vinyasa Yoga (1ªsérie) com David Swenson em Londres. E no ano seguinte, com Manju Jois, na Grécia. É a prática de Ashtanga Vinyasa Yoga que orienta a sua prática pessoal, tendo como referências neste método os professores Tomas Zorzo e Kia Naddermier, com quem continua a aprender regularmente. Dando continuidade à investigação e estudo do Yoga, em 2017 fez um curso de aprofundamento no método Iyengar, com Claudia Villadelprat. No yoga, Ana encontrou a Ordem para uma vida em constante desordem e um código de ética, que norteia a sua vida e que procura passar em diante.
Local do Retiro: Monte Orada (Odemira)
Inserido na reserva do parque natural da Costa Vicentina, o centro de Retiros Orada tem o melhor de dois mundos – silêncio e natureza. O espaço acolhedor e construído em perfeita harmonia com a envolvente natural, aliado à paisagem são o convite a momentos de passeio, contemplação e silêncio interno. Para completar os momentos de lazer podemos ainda usufruir de uma piscina biológica totalmente inserida no meio natural e ao cair da noite o céu transforma-se numa gigante tela perfurada por milhões de pontos de luz e a observação das estrelas é a inevitável recompensa ☺
Mais em: www.ORADA.eu
Localização: Monte da Orada |ODEMIRA | N120 @ Km112,5 East
Sobre o Alojamento e alimentação:
Vários tipos de alojamento disponíveis: dormitório, bungallow ou suite dupla.
A alimentação será vegetariana.
Para inscrições e mais informação: ana@casaganapati.com
* Vidyā Dānam
Este Retiro está abrangido pela nossa bolsa de estudos, se quiser contribuir ou usufruir dela pf entre em contacto!
por casa-ganapati | Jun 26, 2023 | Destaque, Eventos
Depois de 5 viagens entre o Norte e o Sul da Índia com muitas paragens, diversidade, tradição, cultura, estudo e yoga, decidimos que era tempo de oferecer algo novo. Sentimos o apelo por uma viagem com foco no ensinamento, resguardados pela tradição e tranquilidade de uma vida de ashram. A escolha inquestionável foi para o “nosso” ashram, o Swami Dayananda Ashram, em Rishikesh, naquela que é a nossa casa na Índia.
Durante a nossa estadia teremos o privilégio de aprender com o Swami Sakshatkrtananda Saraswati, que é hoje o responsável por este ashram do Swamiji e um excelente professor, com uma capacidade de comunicação muito clara e um vastíssimo conhecimento.
Enquadrados pela beleza natural e imponência dos Himalaias, vamos ainda embrenhar-nos nas montanhas mais sagradas da Índia, em jeito de peregrinação. Rumaremos numa intensa aventura com destino a Kedarnath, a 3500 metros de altitude. O seu famoso templo é um dos chota char dams, 4 lugares sagrados de peregrinação nos Himalaias, em conjunto com Gangotri, Yamunotri e Badrinath, que quem sabe visitaremos noutra oportunidade 😉 Diz-se que os Pandavas visitaram estes lugares como forma de penitência no final da grande guerra de Kurukshetra!
Para que tapas esteja bem presente nesta viagem e seja fruto de bênçãos para os nossos estudos faremos uma boa parte da nossa peregrinação caminhando, embalados, pelas histórias e lendas da tradição que nasceram nestas montanhas! Provaremos também as exigências inerentes ao contraste de temperaturas pelo calor que nos espera em Rishikesh e o frio da montanha que se fará sentir em Kedarnath, será um desafio, abençoado por Shiva!
MAIS INFORMAÇÃO:
ana@casaganapati.com
+351919022478
www.casaganapati.com
@casaganapati
por casa-ganapati | Jun 7, 2023 | Destaque, Eventos
Há um encanto que reconhecemos nos olhar dos sábios da Índia. Esse encanto especial é Vedānta, é a visão de que tudo é plenitude. Esse eu, cheio, é o que todos buscamos. Ele é revelado nas Upaniṣads para ser descoberto por quem se der o tempo e a atenção de olhar para elas.
Chāndogya Upaniṣad é uma Upanishad extensa. Os últimos três capítulos são os mais relevantes para o estudo de Vedānta. No Capítulo VI ocorre a famosa afirmação tat tvam asi, tu és aquele; tu és aquele que buscas ser; a verdade de ti mesmo é a verdade de todo o universo.
Temos, assim, um diálogo de 16 secções entre o professor Uddālaka e o seu filho Śvetaketu focado na verdade de tudo. No que olhamos as palavras do mestre vemo-nos completos.
Esta Upaniṣad, que pertence ao Sāma Veda, é uma das mais importantes e é muito relevante para um estudo futuro de Brahma Sūtra.
Todos são bem vindos!
Não é exigido estudo anterior de vedānta para participar.
Sobre a estrutura do Curso: O extensivo terá lugar em 7 encontros de Domingo, presencialmente e/ou online:
DATAS:
24 de Setembro de 2023,
22 de Outubro de 2023,
26 de Novembro de 2023,
21 de Janeiro de 2024,
18 de Fevereiro de 2024,
24 de Março de 2024,
14 de Abril de 2024.
Horário
09:00 – Meditação
9.30h – Upaniṣad
10.45h – Intervalo
11.15h – Upaniṣad
12.30h – Pausa para almoço
14.30h – Upaniṣad
15.45h – Perguntas/Pausa
16.30h – Meditação final*
17.00h – Namaste!
* o horário de início da meditação final ficará dependente das perguntas. Podendo ter início antes do previsto ou pouco depois.
Programa de prática e estudo:
- Meditação e nididhyāsana .
- Estudo do Capítulo VI da Chāndogya Upaniṣad
Este curso será conduzido pelo Miguel.
Miguel Homem ensina yoga, sânscrito, mantras da tradição védica e vedānta.
Miguel dedica-se ao estudo, prática e vida de yoga há cerca de 20 anos, aprendeu e aprende yoga com vários professores dos quais destaca Andrés Wormull, Claudia Villadelprat, David Frawley, Manju Jois, Pedro Kupfer, Simão Monteiro e Tomas Zorzo.
Em 2005 conheceu o seu Mestre Pujya Swami Dayananda com quem aprendeu vedānta regularmente até ao seu Maha Samādhi. Desde 2006 traz regularmente a Portugal a Prof. Gloria Arieira com quem mantem o estudo de sânscrito e shaṅkara bhāṣyam e por quem nutre o afecto de um filho. Em 2007 conheceu Ganga Mira, assistindo regularmente aos seus satsaṅgas desde então. A expressão directa da Ganga é uma fonte de inspiração e contemplação contínua.
Continua a estudar regularmente, continua a ouvir o que o Swamiji ensinou, continua a aprender e manter uma relação estreita com as suas Mestras por quem tem um carinho, respeito e admiração sem fim. Continua ainda a viajar para a Índia, anualmente, para visitar lugares sagrados, aprender, praticar, ensinar e tudo o mais que a Índia traz.
Miguel tem um enorme respeito pela tradição de ensino e o seu compromisso é passar adiante aquilo que lhe foi passado pelo seu Mestre. Ensina vedānta regularmente na Casa Gaṇapati, dando aulas semanais e conduzindo cursos extensivos.
Valor do Extensivo e Pagamento: 350€*
- Desconto de 50€ para quem já tenha participado em extensivos anteriores e se inscreva até dia 30 de Julho 2022.
- Agravamento de 50€ a partir de 1 de Setembro 2023
- O pagamento poderá ser parcelado da seguinte forma: 175€€ no acto da inscrição e o restante até ao final de Dezembro de 2023.
*É importante para nós que os nossos alunos regulares possam manter o estudo. Pedimos que entrem em contacto connosco, se tiverem alguma dificuldade com o pagamento e lembramos que temos à disposição a Bolsa de Estudos “Vidya Dānam”. Caso queiram aceder a ela entrem em contacto!
Por motivo de organização:
- As inscrições só se efectivam com o pagamento do evento.
- Não serão feitas quaisquer excepções quanto às datas de pagamento.
- Não serão admitidas reservas de lugares.
- Não serão feitos reembolsos dos valores pagos.
Agradecemos a sua compreensão.
Organização: Casa Gaṇapati
Mais informações: ana@casaganapati.com | 919022478
por casa-ganapati | Mai 7, 2021 | Blog, Destaque
“Vairagya serve para te ajudar a tornares-te uma pessoa maior”
Em Março de 2010, durante o primeiro curso em Rishikesh, dedicado ao texto Pancadasi, tivemos uma vez mais a honra e feliz oportunidade de entrevistar Swami Dayananda. Como já se vem tornando hábito, fomos recebidos na sua casa, pelo seu bom humor e compaixão e expusemos as nossas questões às quais Swamiji respondeu com toda a sua clarividência. É com muito gosto, então, que partilhamos mais uma entrevista, desta vez sobre os valores universais, desejando que possa ser útil e esclarecedora para todos.
Existem alguns valores universais. Porque devemos segui-los? Porque alguém nos diz para fazê-lo, ou existe uma razão objectiva para tal?
Os valores não são universais porque alguém nos tenha dito. Se alguém nos tivesse dito não seriam universais. Sem que ninguém nos diga nada, temos valores que são universais. Isto vem de um simples facto inerente a qualquer organismo vivo, que é: querer viver e viver sem sofrer. Eu quero viver, não quero sofrer. Isto é um valor instintivo de todo o organismo vivo para que possa sobreviver. É um instinto de sobrevivência. Com os animais esse instinto pára por aí, está programado. Imaginem que uma vaca dá um coice a alguém e essa pessoa fica magoada, a vaca não sente qualquer arrependimento, ou culpa. Nós humanos também não queremos ser magoados, porque somos seres vivos, então temos o mesmo valor de que ninguém deveria magoar-nos. Mas enquanto seres humanos temos a capacidade para observar e saber que os outros também não querem ser magoados, é do senso comum. A vaca parece não saber isso, mas nós sabemos, observamos e sabemos. Então, se eu não quero ser magoado e os outros também não – um valor nasce. Assim sendo é universal, é um valor não ensinado. Todos os outros valores nascem desse valor porque se fores contra ele vais magoar as pessoas. Roubar, enganar, explorar – tudo isto magoa as pessoas. Logo existem valores derivados e existem valores primários, sendo que ahimsa – não magoar o outro – é um valor primário. Como tal dizemos que ahimsa é o valor primordial – paramodharma. A partir daqui já temos um conjunto de valores. Se alguém é compassivo, compreensivo, generoso, cuidadoso, valorizamos isso. Os outros também valorizarão isso em nós. Ainda assim, porque é que as pessoas vão contra os valores, se sabem que aqueles são os valores que formam uma estrutura comum? Os seres humanos têm a capacidade de escolha e assim sendo precisam de uma estrutura de valores comum – a tua escolha não me magoa, a minha escolha não te magoa. Então, se existe essa estrutura comum de valores, porque vou contra ela? Por uma razão: a pressão dos meus desejos, da minha ambição. O desejo gera pressão, essa pressão faz a pessoa comprometer os valores, o dharma, e por isso dizemos: não cedas à pressão – tayor vacham na agachet; não te deixes levar por essa pressão, a pressão do desejos, de diferentes tipos de desejos – raga-dvesha. E porque não, se tanto se fala em “Sobrevivência do mais forte”[1]? Eles podem bombardear-te, tu podes bombardeá-los, eles podem bater-te, tu podes bater-lhes, está tudo bem. Foi o que fizeram nos séculos passados. “Poder é razão” (trocadilho com a rima “Might is right”, em inglês). Todos tentaram bater nas pessoas e ocupar os lugares, colonizá-los e tudo mais. Fizeram muitas atrocidades em nome do “Poder é razão”. Muitas religiões apoiaram isso também, em nome da religião fizeram-no.
Assim sendo, o crescimento enquanto ser humano está na minha capacidade de agir conforme o dharma, inicialmente com resignação, deliberação e um grande sistema de apoio, depois espontaneamente. Por espontâneo entende-se que te tornas santo. Essa santidade é o crescimento de um ser humano, isso é ser espiritual. Dizemos que alguém é espiritual em relação a outra pessoa que não cresceu nesse sentido. Toda a gente tem de crescer nessa direcção e a partir daí crescer por sua própria iniciativa. Se não crescemos tornamo-nos pessoas emocionalmente atrofiadas. Não é por mais ninguém que eu cresço, é porque estou desenhado para crescer, logo devo crescer e tornar-me uma pessoa completa. Na minha própria auto-estima sinto-me muito feliz, na perspectiva dos outros também passo, mas não é esse o critério para o meu crescimento. Na minha própria estima vejo-me como livre de culpa e desse crescimento atrofiado e logo vivo bem comigo próprio.
A relação entre moksa e essa santidade, a relação entre viver de acordo com o valores e moksa é que apenas para esta pessoa existe moksa. Não entenderás que és o Todo se não fores compassivo contigo próprio. Eu sou ananda. Não posso sentir-me culpado e magoado e ver este conhecimento de que sou o Todo, não funcionará, é uma contradição, essa mente humana não consegue ver, esse ser humano não consegue ver isso. Logo, viver de acordo com o dharma e moksha estão altamente relacionados. Mesmo que uma pessoa não alcance moksha, será sempre uma pessoa virtuosa e isso, por si só, já é um dividendo, isso por si só já é crescimento e a partir daí moksha torna-se muito simples, é apenas um passo, é apenas aquela ligação – tat tvam – tu és isso, apenas essa ligação tem de ser feita, nada de especial.
Sobre kshanti, aceitação
Como agir quando nos é impossível aceitar um determinado comportamento de alguém em relação a nós? Deveríamos evitar relacionar-nos com essa pessoa ou confrontá-la?
Temos de estabelecer limites. Este valor existe para ti, mas também para a outra pessoa, quer ela o valorize ou não, deveria ser um valor para o outro também – kshantih. Então o que fazes? Acomodação é penas permitir que essa pessoa permaneça no seu espaço, “mantém-te no teu espaço mas sem me afectar”. Estabeleço limites para mim e também para o outro. Nas relações interpessoais esta é a coisa a fazer – estabelecer limites. Às vezes é muito difícil, mas é possível. Podes dizer à outra pessoa “pára, a partir daqui não podes passar”, ou “desculpa mas não consigo lidar com isto”. Na sociedade ocidental dizem isto com muita facilidade, os indianos não, têm muita timidez e consideração – “o que irão pensar?” – têm estas preocupações em demasia. Lá (referindo-se ao ocidente) eles não se preocupam nada! (risos). Estive na Holanda e aquelas pessoas são tão claras e abertas. Temos mesmo de criar limites – arantih jana samsari.
Sobre aratih jana-samsadi,
A maioria de nós vive em sociedade. Onde está o equilíbrio entre uma interacção social saudável e ter tempo de qualidade para si próprio?
Tens de escolher que tipo de vida social vais viver. A vida social também ajuda a pessoa a crescer, no entanto, não pode ser um estilo de vida sem qualquer significado, que vá arrastando a pessoa indefinidamente. Não queremos que as pessoas sejam reclusas mas tão pouco que corram atrás de uma socialização que implique beber, dançar até altas horas da noite e toda uma variedade de outras coisas. De certa forma, parece que socializar passou a significar altas horas da noite. Temos de criar o nosso próprio círculo social. Organizar um jantar tranquilo e convidar os amigos. Mudar hábitos. Tu próprio inicias isso. E há muita gente que vai adorar ir. Desta forma, crias a tua própria sociedade, é assim que deve ser. Temos de criar o nosso próprio sistema de suporte, não podes esperar apoio num sistema social como falámos no início, porque serás arrastado para esse estilo de vida. Então criaremos a nossa própria sociedade e haverá cada vez mais gente nela. Com tempo, as coisas começarão a mudar. Por outro lado, existe o respeito pelo tempo de cada um, pela privacidade. Convidas as pessoas para fazerem um sat sang, uns bhajans, trocar perguntas e respostas e mesmo para dançar, sem beber, quando muito uns refrigerantes ou o que quer seja moderado nessa cultura. E pode ter-se também alguma música, que seja um pouco mais “séria” (risos). Então desta forma criamos a nossa própria sociedade e haverá muita gente interessada em começar uma vida assim, encontrarás essas pessoas porque há muitas que estão apenas à espera desse tipo de iniciativas.
Sobre vairagya, desapego
Swamiji pode explicar a diferença entre vairagya e egoísmo? Algumas pessoas, no ocidente, tomam um pelo outro. Por exemplo pensam que ter algum vairagya perante as relações é egoísmo.
Não há qualquer egoísmo, vairagya é desapego. Existe algum mal entendido em torno de vairagya, mas deve ser removido. Vairagya deve ser entendido da seguinte forma: se numa relçãao entre duas pessoas um dos parceiros diz “eu tenho desapego”, não é muito boa ideia, não é deste vairagya que estamos a falar. Vairagya é perceber a ausência de conexão entre aquilo que fazes e aquilo que queres, isso é vairagya. Eu quero Moksha mas faço outra coisa qualquer, não há qualquer conexão. Mas vejamos um exemplo, numa relação um dos parceiros quer um filho e o outro não, aí está um problema. Aquele que quer o filho dirá ao outro que ele é egoísta e que só pensa na sua própria felicidade. Mas ter uma criança é vairagya. Se fazes algo, mesmo sendo aquilo que não queres, isso também é vairagya. Se o outro quer, nós fazemo-lo feliz, é a melhor coisa a fazer. E assim tornas-te maior. Vairagyaserve para ajudar-te a tornar-te uma pessoa maior, não menor. Em nome de vairagya não podes tornar-te menor. Tens de dar. Assim sendo, fazes feliz a pessoa que amas. Já resolvi este tipo de questões entre casais tantas vezes… A mulher chega aqui e diz-me “eu quero um filho mas ele é espiritual e não quer”, E eu pergunto ao marido: “o que tens a perder”? A paternidade é uma coisa muito boa para antharkarana shudhi. Fazer a outra pessoa feliz é o que vairagya é. Na tua vida há uma pessoa que amas e precisas dela para alimentar o teu ego, que espécie de vairagya é esse? É falso vairagya, mas acaba por ser visto com esse nome. Então, sê objectivo, se existem as condições para criar a criança adequadamente a decisão deve ser dos dois. Ambos têm de decidir “ok, vamos ter um filho”. Se já não estiveres na idade certa, se houver algum risco envolvido, nesse caso não te incomodes com o assunto, mas se for seguro ter uma criança deves seguir isso. A paternidade é uma coisa linda. A mulher é desenhada para ser mãe, de outra forma todo aquele sofrimento por que passa, mês após mês, seria inútil, esse distúrbio hormonal e tudo o mais seriam um disparate. Elas têm de passar por tudo isto porque são desenhadas para a maternidade e o próprio sistema biológico quer isso. Até por volta dos 30 anos não se interessa, a partir daí o desejo começa e, por vezes, acaba por ser tarde de mais. Por isso dizem que se deve ser mãe quando é saudável. Estas pessoas modernas preferem ser livres, sem filhos. Também com um filho se pode ser livre. Tudo depende… Livre para fazer o quê? Se tiveres uma criança não podes sair até altas horas… Se gostas de ser mãe isso já é sucesso, não precisas de qualquer outra liberdade. É uma confusão de valores.
Vairagya deve ser bem entendido. Uma criança não resolverá todos os problemas, isso é vairagya, mas resolverá alguns. Aquilo que uma pessoa não recebeu dos seus pais na infância pode dar aos seus próprios filhos e assim processar tudo isso. Esse inconsciente tem de ser liberto, é um kashaya, e para isso a maternidade e a paternidade são a melhor coisa. Se for possível a pessoa deve ter filhos.
Sobre anabhishvangah putra-dara-grhadishu – Ausência de obsessão em relação a filhos, mulher e lar.
O Swamiji costuma dizer “Somos todos apaixonados pelo Eu satisfeito”. Como encontrar amor e liberdade nas relações?
A afeição é necessária, abhishvanga é afeição, e é necessária para os seres humanos, eles requerem afeição e esta fá-los sentir amados, o que parece ser uma grande necessidade. A criança não entende “eu sou amada”. Nenhuma criança percebe isto. Se a mãe se afasta por alguma razão ela imediatamente pensa “eu não sou amada”, esta é a forma de pensar de uma criança. Assim sendo, o que devemos fazer é tornar esse carinho e afeição objectivos. Cuidar é uma coisa maravilhosa. Tu dás e fá-los sentir acarinhados. Outra coisa é a obsessão, estar constantemente preocupado “o que vai acontecer, o que vai acontecer, o que vai acontecer” isso é obsessão. “Como vou sobreviver sem esta pessoa”, tudo isso é obsessão. Tenho de entender que tudo é oferecido por Ishvara e que tenho o meu círculo, o meu pequeno círculo de relações dentro do grande círculo, logo é dele que eu tomo conta. Tenho de fazê-lo e gosto de fazê-lo pelo que se torna seva, torna-se a tua contribuição. Uma criança é-me dada, sob o meu cuidado, sob o meu amor a criança vai crescer, então asseguro-me que ela cresça bem, no seu espaço, sem tentar controlar, amor não é controlo. Fazemos frequentemente esta confusão entre amor e controlo ” eu amo-te por isso senta-te!”, isso é um problema. Assim, dá espaço à pessoa para que ela possa ser livre, para que ela possa expressar o seu amor. Não é fácil, porque onde há amor a obsessão espreita, o controlo, o ciúme, o medo espreitam, pelo que devemos estar devidamente conscientes de que fomos criados por uma lei, cada um crescendo no seu tempo (tradução da palavra pace, Swamiji inicia aqui um trocadilho com as palavras pace e space). Tempo e espaço são coisas diferentes, então devemos entender que cada pessoa cresce no seu tempo e espaço. Isto significa que não podes esperar o crescimento imediato da criança, ela tem de crescer no seu próprio tempo, como o botão de uma flor desponta no seu devido tempo, não podemos apressá-lo, isso é amor – permitir que a pessoa cresça no seu tempo e espaço, isso é anabhishvangah putra-dara-grhadishu. Se estamos a falar de um objecto (uma casa, um carro,…) é a mesma coisa. Cuidamos das nossas coisas, mantendo o carro limpo, oleado… O carro não deve ser uma extensão de mim mesmo, noto que algumas pessoas lhe dão uma ênfase
excessiva, chama-se a isto valor exagerado, a pessoa projecta-se noutra coisa qualquer. Isto é um problema de auto-imagem, um bom estudo de Vedanta levará tudo ao sítio. Um correcto estudo de Vedanta resolverá este problema de auto-imagem. Se eu sou o Todo onde está o problema de auto-imagem? Então, isso vai-se quando correctamente entendido, por isso temos de ensinar.
[1] Might Is Right ou
The Survival of the Fittest, é um livro do autor com o pseudónimo Ragnar Redbeard. Considera-se que advoga o Darwinismo social e que tenha sido publicado em 1890. Nesta obra o autor rejeita as ideias convencionais dos direitos naturais e humanos e argumenta que apenas o poder físico e da força podem estabelecer a ordem moral.
por casa-ganapati | Mar 14, 2021 | Blog, Destaque
”Não existe caminho para o crescimento espiritual sem compaixão”
Durante a nossa estadia no Arsha Vidya Pitham em Rishikesh, Swami Dayananda Saraswati, recordado da entrevista que lhe havíamos feito na Quintas das Águias em Outubro de 2008, propôs-nos responder a mais algumas perguntas. Foi com maior prazer e reconhecimento que preparámos a entrevista que se segue dedicada ao tema da Solidariedade. É também com o maior respeito que agradecemos ao Swamiji pelos momentos que nos dedicou e pela simpatia com que nos recebeu.
1. Por favor explique-nos a importância da solidariedade, ocupar o tempo ajudando os outros.
Todos nós temos de ajudar, porque precisamos de crescer emocionalmente, crescer para nos tornarmos pessoas auto-aceites. Não podemos permanecer pessoas inseguras. Se sou inseguro não consigo ajudar, quero é que o mundo inteiro me ajude (risos).
As pessoas aproveitam-se das situações. Uma pessoa frágil, ou que esteja numa situação de fragilidade, pode explorar em seu próprio benefício, e isso significa que é uma consumidora e não uma contribuinte. Para ser um contribuinte é necessário dar, ajudar. Este é o método para o crescimento, dando e contribuindo, tornamo-nos pessoas mais completas, mais compassivas. Quanto mais compassivos formos, mais nos aceitamos. Quanto mais inseguros formos, menos nos aceitamos. Isto alimenta-se, sou inseguro, logo não consigo dar e então deito a mão a tudo. Assim, quanto mais eu quiser agarrar, motivado pela minha insegurança, mais inseguro me tornarei.
Todos começamos a vida com alguma insegurança, mas crescemos transformando-nos em contribuintes. Quanto mais contribuir, mais seguro serei, quanto menos o fizer, mais inseguro serei. Assim, viver transforma-se em “ir levando”. Dei uma palestra sobre este tema:”Viver Vs ir levando”. Ir levando é apenas passar, viver só acontece quando contribuis.
2. Qual e a visão dos Vedas acerca deste tema?
Danena adanam tara, os Vedas dizem que temos de dar. Danena adanam tara. Vejam este ashram. Não cobramos, não pedimos nada, mas estamos a funcionar. Muitos sadhus vêm, muitas pessoas vêm e ficam aqui, e não temos quaisquer problemas. Funcionamos assim também nos EUA e é impressionante. Destacámos um novo gerente para o ashram de Coimbatore e ele tem os seus próprios problemas. Cobra tanto que ninguém pode vir aos cursos (risos). Deixo que seja ele a perceber o que está a fazer. O princípio não foi percebido. O princípio é deixar as pessoas tomarem conta do lugar, nós não tentamos fazê-lo, se o fizermos não conseguiremos, porque é enorme. Temos de deixar as pessoas cuidarem daquilo. Trazer as pessoas, isso é o trabalho que o gerente deveria fazer. Trazer mais pessoas e deixá-las cuidar do espaço. Apenas geres, não gastas o dinheiro, não o desperdiças, se gerires adequadamente, o dinheiro vem. Esse é o princípio, é cultural, é a nossa cultura. Danena adanam tara, se temos incapacidade para dar, isso é natural, mas temos de ultrapassá-la. Tara significa ultrapassar, isto é Veda, Sama Veda. “Au au au setumstara dustaran”[1], utiliza uma ponte (setu) para atravessar isso. Estas coisas são difíceis de ultrapassar, isso é adanam. Como ultrapassar o facto de não dar? Danena adanam, danena adanam, danena adanam…Danena adanam tara. Não dar é ultrapassado dando (risos). Fingir e agir, danena adanam.
Se não tens shrada[2], shradaya ashradam, com shrada significa agir como se tivesses. O que as pessoas que têm shrada fazem, tu fazes também. E shrada vem, isto é verdade.
Shradaya ashradam, akrodenam krodam, a raiva, por favor, ultrapassa através de akroda, a prática de não-kroda, não há outra forma. Não vitimizes as pessoas, neutraliza toda essa raiva krodenam krodam. Satyenam anrtam, pelo que é verdadeiro, ultrapassamos anrtam, o que é falso. Isto é Veda, Sama Veda e Yajurveda. Shradaya deyam, isto também é Veda. Aquilo é Sama Veda e isto é o Yajurveda de Krishna. Shradaya deyam. Deyam significa dar, com shrada eu dou. Ashradaya deyam, não dês sem shrada.
Assim, convidamos todos os sadhus para o bandhara[3], e fazemo-los sentirem-se obrigados a vir, não lhes fazemos sentir que estamos a dar-lhes comida, não. Fazemo-los sentir que é seu dever vir, isso é a verdade, isso é dar, isso chama-se shrada.
Eu não me posso curvar, tenho problemas na lombar, mas lá me vou arranjando com algum yoga, mas ainda assim, vou lá e faço namaskara[4] a toda a gente, seja quem for, não questiono, faço namaskar até aos bhramacharys[5] e às outras pessoas. Faço namaskar a toda a gente. As pessoas sentem-se bem, sabes? Mas para mim é real, não tenho qualquer pretensão, realmente respeito. Isso é shrada. Se não podes dar mais, ofereces a tua ajuda com humildade. Com o conhecimento acerca da pessoa a quem estás a dar, dá, quer ela aceite ou não. Por favor, assegura-te de que o destinatário da tua ajuda a aceita, mas ainda que não dá. Dá com o conhecimento daquilo que estás a dar.
Então, tanto, nesta tradição está relacionado com dar. Se olharmos para o trabalho voluntário na maioria dos países, o voluntariado como contribuição diária de uma pessoa só acontece na Índia. Nesta cultura até as pessoas pobres contribuem. Todos os sadhus viviam aqui, não havia nenhum local que distribuísse comida, mas eles vinham até aqui porque podiam aprender uns com os outros. Foi assim que tudo começou. Queriam aprender e vinham para Rishikesh. Mais ninguém vivia aqui e eles ajudavam-se mutuamente. Uma pessoa sabia gramática, outra sabia Vedanta e assim se aprendia. Os professores de gramática ensinar-te-ão gramática, os de Vedanta ensinar-te-ão Vedanta. Um gramático vai querer aprender Vedanta. Um professor de Vedanta também sabe gramática mas não vai ensinar isso, porque seria uma perda de tempo para ele. Ele guiar-te-á “por favor, vai até lá e aprende com outra pessoa”. Eles especializavam-se, por isso o professor de gramática vinha aprender com o professor de Vedanta e assim entreajudavam-se. Havia sempre alguém que sabia um pouco de gramática para ensinar aos principiantes e fá-lo-ia. Assim eles vinham até aqui e depois iam às aldeias nas montanhas pedir comida e as pessoas davam. Sem qualquer problema. Faziam namaskar e davam. Shrada, shradaya deyam, ashradaya deyam. Então, nesta tradição, danam é muito importante – dar sem qualquer lamento, sem quaisquer reservas.
3. Temos visto algumas pessoas ficarem demasiado egocêntricas ao longo da sua vida espiritual. Qual é a importância da solidariedade para aqueles que estão comprometidos com Moksha?
Se não tiveres compaixão, Moskha não existe. Bhutadaya, isto significa que tens de teradvesta sarva bhutanam maitra karunayeva. Tem de haver Karuna – compaixão. Maitra, é aquele que tem amizade, que não tem ódio em relação a ninguém. Advesta sarva butanam maitra karunayeva. Logo, não existe caminho para o crescimento espiritual sem compaixão. Daya é compaixão. Olha para o meu nome – Dayananda. Daya é uma coisa muito importante, é compaixão. Porque valorizam Daya o nome é dado. Não sou o único Dayananda, há muitos. Um deles é um professor, que ficou bem conhecido por ter fundado uma grande organização – Arya Samaj. Ainda hoje sou confundido com essa pessoa. Recebo cartas de recomendação para uma escola, a DAV, que pertence à Arya Samaj. Pensam que sou aquele Dayananda e mandam-me cartas de recomendação, não fazem ideia. Há tantos Dayanandas por aqui que eu pus Saraswati. Saraswati é um título. Não preciso de ter um nome longo, Swami Dayananda Saraswati, no computador o nome nunca aparece na totalidade, escrevem Swami D. Saraswati ou Swami D. Isto é muito comum, há muitos Dayanandas em Rishikesh. Então, o que eu quero dizer é que a palavra Daya é muito valiosa, muito importante – bhutadaya. Karuna é outra palavra importante. Assim, tu cresces enquanto pessoa na direcção de Moksha através de Daya.
4. Como é que as pessoas devem ajudar, local ou globalmente?
Tens de descobrir. Sabes, num país como Portugal existe alguma previdência social, o governo toma conta disso. Logo, individualmente, não é necessária muita ajuda, mas muita gente precisa que ouçam as suas histórias. Assim sendo, podemos ouvi-las, falar com elas, isso é uma grande ajuda. Sem qualquer terapia, deixando-as apenas falar. Não devemos nunca fazer terapia, para fazê-lo temos de ser profissionais e cobrar. Cobrar faz parte da terapia, se é paga a terapia funciona. Se pagarem compreendem que estão perante um profissional e começam a falar, porque estão a pagar (risos). Vão falar e falar e falar, sem parar. Se não pagarem não falam. Neste caso é diferente, apenas oferecemos os nossos ouvidos, isso é uma grande ajuda. Instrução de crianças também é uma boa ajuda. Assim, há sempre trabalho que pode ser feito, toda a gente pode fazer qualquer coisa.
Em Novembro do ano 2000 Swami Dayananda Saraswati fundou o movimento All India Movement (AIM) for Seva, com o objectivo de instituir uma mudança entre a população indiana, incitando-a a cuidar daqueles que mais precisam. A palavra “seva”, significa literalmente servir com respeito, indicando a própria meta desta organização – construir uma sociedade onde as pessoas cuidem umas das outras.
Se estiver interessado em saber mais acerca do AIM for SEVA ou em fazer um donativo visite o site: www.aimforsevaindia.org
Rishikesh – Março de 2009
[1] O Sama Veda é cantado desta forma, a cada passo, a sílaba “au” é repetida.
[2] Respeito, confiança.
[3] Ritual em que é oferecida e servida comida aos sadhus.
[4] Saudação
[5] Estudantes