por casa-ganapati | Jan 30, 2024 | Destaque, Eventos
Na Bṛhadāraṇyaka Upanishad, temos um diálogo entre o Rei Ajātraśatru e um brāhmaṇa chamado Gārgya. O brāhmaṇa quer ensinar o Rei, mas o Rei sabe tudo o que brāhmaṇa conhece. Sistematicamente, o Rei diz-lhe que quer mais e embora Gārgya saiba tudo sobre o mundo, tem de concluir que é tudo o que sabe.
Podemos saber tudo sobre o mundo, sermos os mais eruditos, saber mais do que os demais, saber o que os outros desconhecem, mas a verdade não está nos objectos. Qual é a verdade daquele que conhece? Onde descansa ele?
É o que vamos aprender com Gārgya do Rei. Ele revelar-nos-à o nome secreto da verdade!
É nesta mesma secção da Upaniṣad, mūrtāmūrta brāhmaṇam, que encontramos o famoso mantra neti neti, o mais famoso método de Vedānta. Vamos olhar para ele e aprender a olhar para nós através dele!
Vedānta não é simplesmente estudar ou ouvir, mas levar a cabo um questionamento sobre as palavras que me revelam como sempre me quero. Olhamos para essas palavras com a ajuda do sábio, Ajātraśatru, aquele que só quis ouvir sobre a verdade, livre de noções, densas ou subtis.
Todos os que querem genuinamente aprender são bem-vindos!
Programa previsto: (sujeito a pequenos ajustes)
7 de Junho, sexta-feira
15:00 – Chegada
16:00 – Boas-vindas aos participantes e apresentação do encontro
16:30 – Prática de Yoga (Ana)
18.00 – Introdução ao Ajātraśatru brāhmaṇam da Bṛhadāraṇyaka Upanishad (Miguel)
19:30 – Jantar
21:00 – Satsaṅga e kirtan
8 de Junho, sábado,
07:30 – Pratica de Yoga (Ana)
09:00 – Meditação
09:30 – Pequeno-almoço
11:00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
12.15 – intervalo
13.00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
14:00 – Almoço e descanso
18.00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
19:00 – Meditação (Miguel)
19:30 – Jantar
21:00 – Satsaṅga e kirtan
9 de Junho, Domingo
07:30 – Pratica de Yoga (Ana)
09:00 – Meditação
09:30 – Pequeno-almoço
11:00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
12.15 – intervalo
13.00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
14:00 – Almoço e descanso
18.00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
19:00 – Meditação (Miguel)
19:30 – Jantar
21:00 – Satsaṅga e kirtan
10 de Junho, Segunda (feriado)
07:30 – Pratica de Yoga (Ana)
09:00 – Meditação
09:30 – Pequeno-almoço
11:00 – O ensinamento de Ajātraśatru (Miguel)
12.15 – intervalo
12.45 – Conclusão e Sat Saṅga de encerramento (Ana e Miguel)
14.00 – Almoço
15.30 – Namaste e Saída
Os professores
Miguel Homem ensina yoga, sânscrito, mantras da tradição védica e vedānta. Miguel dedica-se ao estudo, prática e vida de yoga há mais de 20 anos, aprendeu e aprende yoga com vários professores dos quais destaca Andrés Wormull, Claudia Villadelprat, David Frawley, Manju Jois, Pedro Kupfer, Simão Monteiro e Tomas Zorzo. Em 2005 conheceu o seu Mestre Pujya Swami Dayananda com quem aprendeu vedānta regularmente até ao seu Maha Samādhi. Desde 2006 trouxe regularmente a Portugal a Prof. Gloria Arieira com quem mantem o estudo de sânscrito e Śaṅkara bhāṣyam e por quem nutre o afecto de um filho. Em 2007 conheceu Ganga Mira, assistindo regularmente aos seus satsaṅgas desde então. A expressão directa da Ganga é uma fonte de inspiração e contemplação contínua. Continua a estudar regularmente, continua a ouvir o que o Swamiji ensinou, continua a aprender e manter uma relação estreita com as suas Mestras por quem tem um carinho, respeito e admiração sem fim. Continua ainda a viajar para a Índia, anualmente, para visitar lugares sagrados, aprender, praticar, ensinar e tudo o mais que a Índia traz. Miguel tem um enorme respeito pela tradição de ensino e o seu compromisso é passar adiante aquilo que lhe foi passado pelo seu Mestre. Ensina vedānta regularmente na Casa Gaṇapati, dando aulas semanais e conduzindo cursos e extensivos.
Ana Sereno estuda e pratica Yoga desde 2003. Em 2009 completou o 1º curso de Formação para Instrutores de Yoga com Pedro Kupfer, em Portugal, tendo começado a ensinar na Casa Gaṇapati desde então. Entre 2008 e 2016 estuda Vedānta, disciplina de auto-conhecimento, com Pujya Swami Dayananda, seu Mestre, no Dayananda Ashram, em Rishikesh (Índia), onde passa a ver o Yoga não como uma disciplina física destinada ao bem-estar mas como um estilo de vida que conduz à liberdade e verdade do que somos. Hoje em dia, continua os estudos de Vedānta com a professora Gloria Arieira. Em 2010 fez formação em Ashtanga Vinyasa Yoga (1ªsérie) com David Swenson em Londres. E no ano seguinte, com Manju Jois, na Grécia. É a prática de Ashtanga Vinyasa Yoga que orienta a sua prática pessoal, tendo como referências neste método os professores Tomas Zorzo e Kia Naddermier, com quem continua a aprender regularmente. Dando continuidade à investigação e estudo do Yoga, em 2017 fez um curso de aprofundamento no método Iyengar, com Claudia Villadelprat. No yoga, Ana encontrou a Ordem para uma vida em constante desordem e um código de ética, que norteia a sua vida e que procura passar em diante.
Local do Retiro: Monte Orada (Odemira)
Inserido na reserva do parque natural da Costa Vicentina, o centro de Retiros Orada tem o melhor de dois mundos – silêncio e natureza. O espaço acolhedor e construído em perfeita harmonia com a envolvente natural, aliado à paisagem são o convite a momentos de passeio, contemplação e silêncio interno. Para completar os momentos de lazer podemos ainda usufruir de uma piscina biológica totalmente inserida no meio natural e ao cair da noite o céu transforma-se numa gigante tela perfurada por milhões de pontos de luz e a observação das estrelas é a inevitável recompensa ☺
Mais em: www.ORADA.eu
Localização: Monte da Orada |ODEMIRA | N120 @ Km112,5 East
Sobre o Alojamento e alimentação:
Vários tipos de alojamento disponíveis: dormitório, bungallow ou suite dupla.
A alimentação será vegetariana.
Para inscrições e mais informação: ana@casaganapati.com
* Vidyā Dānam
Este Retiro está abrangido pela nossa bolsa de estudos, se quiser contribuir ou usufruir dela pf entre em contacto!
por casa-ganapati | Jul 26, 2018 | Blog
Guru significa aquele que dissipa a escuridão, no sentido daquele que ilumina através do conhecimento, ou seja, muito simplesmente – o professor. No Ocidente criam-se muitas fantasias em torno desta palavra. Imagina-se que o Guru é um mestre exótico que reune uma espécie de seita ao seu redor e que conduz as pessoas a seguidismos cegos e silenciosos. Infelizmente se esta é a visão geral é porque terá sido despoletada por algumas situações deste tipo que admito existirem. No entanto, não é bom generalizar e se passarmos a entender o guru como um professor, alguém que partilha o conhecimento, como quem ensina a escrever ou a fazer contas, percebemos que ter um guru não é fazer parte de uma seita estranha mas é tão normal quanto ter um professor de matemática.
Este é o meu guru, Swami Dayananda Saraswati. É com ele que estudo em Rishikesh, no norte da Índia. Swami Dayananda é um Professor tradicional de Vedanta (Jñana Yoga) na linhagem de Adi Shankarachárya. O seu conhecimento profundo da cultura ocidental e a compreensão dos problemas actuais, fazem dele um Professor único que tem a habilidade para fazer com que cada um perceba a sua verdadeira natureza.
Para além de ensinar, Swami Dayananda deu inicio e contribui para vários projectos de ajuda humanitária ao longo dos últimos 45 anos. Destes, aquele que mais cresceu foi iniciado em 2000, o All India Movement for Seva www.aimforseva.org reconhecido pelas Nações Unidas com o estatuto consultivo, dedica-se a servir a população das áreas remotas da Índia, sobretudo na área da educação e da saúde.
por casa-ganapati | Dez 14, 2017 | Blog
Estou cansada desta feira de vaidades em que o yoga se transformou, estarei obviamente a generalizar, felizmente ainda há quem tenha as ideias no lugar mas de facto a banalização e deturpação estão a ganhar terreno e isso mexe comigo!
Este é um daqueles textos que pode gerar polémica, ou então, somos tão tradicionais na forma como abordamos o yoga cá em casa que já nem sequer ninguém nos lê, seja como for, estou pronta para as críticas. Já sei que tudo vai começar por “ah e tal não se deve julgar os demais, isso não é Yoga…”, certo. Aprender a evitar o julgamento fácil, olhar mais para dentro do que para fora, é uma das qualidades que se vai desenvolvendo com uma vida de yoga, mas isso não faz de nós seres passivos e resignados que perdem o juízo crítico. Eu não perdi o meu e não tenciono fazê-lo, porque ter uma opinião e ter clara uma forma de estar na vida também é fundamental para orientarmos as nossas prioridades, no sentido de cultivarmos uma vida de yoga. E isto já pressupõe que percebemos que o yoga não acaba no tapete de prática mas é efectivamente uma forma de viver.
Casos extremos como o do yoga a beber cerveja, yoga com cabras, yoga com armas nem chego a considerar, são demasiado estapafúrdios para terem vida longa e não exigem demasiado discernimento para que se perceba a sua falta de tudo. Agora ginástica olímpica disfarçada de yoga, desafios de ostentação do ego disfarçados de yoga, desfiles de roupa desportiva disfarçados de yoga, psicologia barata disfarçada de yoga, tiram-me do sério, pronto disse!
O Yoga é um meio para o auto-conhecimento, desse caminho fazem parte o auto-estudo, a meditação, o cumprimento de um conjunto de valores e normas éticas e também a prática de ásana, tudo o mais é folclore! Isto de nos tornarmos pessoas melhores não vai lá com falinhas mansas, com cházinho de ervas, nem com 30 mil likes no instagram, mas exige esforço, dedicação e acima de tudo compromisso. Isto também não faz do yogi um chato que não pensa em mais nada, mas alguém muito consciente da sua prioridade e portanto que tem a capacidade, ou pelo menos, esforça-se seriamente por isso, para alinhar pensamento, palavra e acção e viver de forma dhármica. Isto não quer dizer viver alienado do seu tempo, se hoje as redes sociais, por exemplo, estão ao nosso serviço há que aproveitar as suas inegáveis vantagens enquanto meios de divulgação e comunicação, mas o conteúdo que nelas colocamos esse é da nossa maior responsabilidade filtrar!
Ora viver de forma dhármica pressupõe ainda que eu não passo por cima dos outros. Quando começámos a ensinar ainda havia esse respeito e uma certa inocência genuína no meio do yoga. Os professores de yoga conheciam-se, respeitavam-se, incentivavam-se e ajudavam-se uns aos outros, a maioria trabalhava por gosto e não por obrigação, sendo que tantos acumulavam o yoga com outra profissão. Entretanto o yoga cresceu, e ainda bem que assim foi, e hoje em dia em Portugal chega a muita muita gente o que também é muito bom, mas a que preço? A concorrência aguça o mercado e é lícito que cada um queira viver bem e ser justamente remunerado pelo seu trabalho (sim professor de yoga não vive de prana, paga as contas como os outros) mas atropelos, desrespeito, e deturpação de uma cultura milenar em nome da massificação, não vale!
Dito isto cabe a cada praticante fazer uso do seu discernimento na hora de escolher as mãos a quem se entrega e cabe a cada professor honrar a tradição de ensino a que pertence e quanto ao resto “namah”, é entregar à ordem de Ísvara (mas às vezes custa!)!
por casa-ganapati | Nov 23, 2017 | Blog
Hoje em dia começa a circular pelos ginásios a onda da ginástica hipopressiva para trabalhar os músculos abdominais (como se de uma grande novidade se tratasse). Pois isto que agora está na moda está vivo no Yoga há centenas de anos e chama-se uḍḍīyāna kriyā, agnisāra kriyā ou nauli kriyā. Estas técnicas não só são excelentes para fortalecer toda a musculatura abdominal, como para estimular o funcionamento do sistema digestivo e podem ser também as grandes aliadas das mulheres na recuperação do pós-parto.
A este propósito aqui fica este texto escrito pelo Miguel e publicado no Dhamabindu, o nosso site de estudos de Yoga, onde podem aprender mais sobre o assunto:
Agnisāra dhauti, também conhecido como agnisāra kriyā, é uma técnica do haṭha yoga que proporciona aos órgãos abdominais o exercício e massagem necessários para que eles cumpram as suas funções de forma saudável. Esta prática activa agni, o elemento fogo, no corpo, que no sentido mais denso é equiparado ao processo digestivo, também chamado de fogo digestivo. Diz-se no yoga que uma digestão saudável é o primeiro passo para a saúde, na medida em que o corpo não acumula ama (que por agora traduziremos como toxinas). Para isso, então, precisamos de órgãos abdominais saudáveis para que o poder digestivo do corpo seja estimulado. É este o propósito do agnisāra. Ele não só purifica e fortalece os órgãos abdominais do sistema digestivo como os demais órgãos abdominais.
Para fazer agnisāra kriyā e depois nauli kriyā é necessário aprender primeiro a fazer uḍḍīyāna kriyā.
A melhor forma de aprender esta técnica é:
a) Ficamos de pé, os pés afastados à largura das ancas ou um pouco mais, os joelhos levemente flectidos, o tronco ligeiramente flectido e as mãos apoiadas acima dos joelhos.
b) A posição das mãos é importante para suportar a acção a fazer em seguida, mas também para fixar os músculos do pescoço e ombros.
c) Os dedos das mãos voltados para dentro, para fora ou para baixo conforme o que funcionar melhor.
d) Expiramos completamente, usando bem a musculatura abdominal para esvaziar bem os pulmões.
e) Retemos sem ar.
f) Fazemos uma falsa inspiração, ou seja, fazemos o movimento do peito e costelas como se fossemos inspirar, mas não deixamos o ar entrar. Ao fazê-lo, o abdómen tem de estar relaxado.
g) O diafragma sobe e o abdómen é sugado para dentro em direcção à coluna e para cima desenhando o contorno das costelas.
h) Esta sucção é mantida o tempo que se puder permanecer sem inspirar.
i) Para desfazer o uḍḍīyāna relaxa-se o peito, deixa-se o abdómen voltar ao normal de, forma passiva, à medida que soltamos a garganta e inspiramos lentamente. Isto é um ciclo.
j) Deixamos a respiração voltar ao normal e depois repetimos.
Uma primeira nota para a dita inspiração simulada ou falsa. Ao simularmos o acto de inspirar, mesmo o ar não entrando nos pulmões, o peito expande-se como numa inspiração normal. Por força disso, existe uma aumento súbito da pressão negativa na cavidade torácica que cria a sucção do diafragma.
Um mínimo de 3 ciclos com a duração de 10 segundos cada é sugerido.
É importante lembrar que este uḍḍīyāna é diferente de outras formas de uḍḍīyāna usados quer no āsana quer no prāṇāyāma e é por isso que em vez de lhe chamarmos uḍḍīyāna bandha chamámos-lhe uḍḍīyāna kriyā. Em boa verdade, no prāṇāyāma, esta forma de uḍḍīyāna só seria aplicada na retenção sem ar.
Uma característica peculiar desta técnica, devida ao movimento do diafragma, é o alongamento da parte inferior da coluna lombar associado ao ângulo assumido pelo sacro devido à posição do corpo. Em conjunto, esta combinação revela-se terapêutica para quem tem problemas na região lombar e é sentida como um alívio nessa zona. Não só alonga a região lombar como fortalece e tonifica a região abdominal eliminando o excesso de gordura na região.
A técnica do agnisāra pode ser feita em pé ou num āsana sentado:
a) Começamos com uma respiração profunda
b) Expiramos completamente, esvaziando os pulmões, sugando o abdómen para dentro e para cima, fazendo o uḍḍīyāna kriyā.
c) Retendo a respiração, soltamos o abdómen e recolhemos.
d) Repetimos este processo sucessivamente e de forma rápida o tempo que a retenção sem ar nos permitir.
e) Inspiramos. Isto é um ciclo de agnisāra.
f) Deixamos a respiração voltar ao normal e depois repetimos.
Progressivamente, o tempo de retenção e o número de repetições devem ser aumentados. A Gheraṇḍa Saṁhitā aponta a 100 repetições num ciclo, mas 15 parece-nos um bom número a apontar de início.
Um erro comum é desleixar-se a profundidade do movimento em proveito de um maior número de repetições. Para que a técnica produza o seu efeito é importante que o movimento não seja superficial e portanto o aumento do número de repetições não pode prejudicar um movimento amplo e profundo.
Sugere-se um mínimo de 3 ciclos. O agnisāra dhauti deve ser feito com o estômago e intestinos vazios. Aqueles que têm tensão alta ou problemas cardíacos devem ter cautela e os que têm úlcera ou hérnia abdominal (do hiato ou inguinal) devem abster-se. O bom senso já nos diz que grávidas não devem fazer esta kriyā. Estas cautelas valem também para o nauli.
Os demais só têm a beneficiar com esta prática. Ela fortalece a musculatura abdominal e é dos poucos exercícios que tonifica o transverso abdominal. O sistema digestivo também é estimulado, o que permite uma melhor assimilação dos nutrientes.